Outro tempo
Dorme, no fundo da velha gaveta,
um poema esquecido.
Fora escrito em um outro tempo,
quando eu ainda te amava.
Eram sobras de sentimentos,
rascunhos de dores, partidas.
Não sei precisar a data,
mas recordo a emoção que
ainda sangra, com tintas fortes,
rubras, o meu peito.
Talvez tenha sido escrito
no tempo em que a
adolescência desabrochava – flor
insana e delicada – ,
época em que
tudo parecia ser intenso demais,
dramático demais,
exagerado demais, como aqueles
versos do Cazuza.
Penso também que poderia
ter sido no tempo da
maturidade, quando
O amor já não é tão urgente e
as palavras caem com mais
suavidade no papel.
Ah! O tempo e suas teias...
As armadilhas do cotidiano,
o sabor agridoce das lágrimas que
continuam, ainda, a cair.
Mas o poema é de amor.
E amor é atemporal.
O poema esquecido, surge agora
diante de meus olhos
e longe do teu coração.