Tempo meu querubim...

Sim… eu criei um anjo.

Protegi-o tanto… esquecí-me

de cortar as asinhas.

Não cresceu… é querubim.

Quando ela saiu

de mim… apressada

fadas trouxeram-lhe

duas estrelinhas

e puseram em seu olhar.

Trouxeram ainda

o colar de pérolas

do pescoço da Lua

e compuseram

o seu sorriso que encanta.

Ainda canto… no canto

do quarto da minha saudade inteira

apenas à ela.

Segredo… ela nem sabe.

Cozi vestidinhos

bordei-os de sonhos

linhas de seda

pedrinhas de quimeras.

E ela… linda em sua beleza rósea

nega-se a “despir-se”

sair para a vida

largar as asinhas.

Por o salto, o batom e a armadura

sem esquecer a ternura.

O relógio marca o tempo

preciso acordá-la.

Dizê-la do horário

já são vinte anos…

e horas muitas.

E sonhos muitos.

E o trem vai partir… o último.

Não… o penúltimo.

Mas não devo dizê-la.

Ela precisa aprontar-se

e nem é vaidosa.

Mas tem uma mania minha…

a de atrasar-se

estar sempre certa

aos apenas vinte.

E sonha… e pensa…

e acredita demais.

Encosto-me.

Beijo-a o rosto de querubim

sopro bênçãos de mãe

num afã de que ela… de fato

não acorde nunca.

É o único momento em que passa-me

este desejo estúpido de ser eterna

apenas à ela.

Guardada num vidrinho à mão

segurando um lencinho

e com colo que chama-a para ninar.

E ela seria para sempre

O meu querubim.

O trem…

preciso apressá-la.

Karla Mello

Fevereiro/2012

Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 16/02/2012
Reeditado em 16/02/2012
Código do texto: T3502058
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