AQUELE QUE TEM VIDA INTERIOR NÃO PADECE DO MAL DA SOLIDÃO Eu sei que te desgosta o meu sorriso no impreciso de ser e estar sozinho. Se com meus passos faço o meu caminho, a tua volta, em volta, não preciso. Se sorrio feliz é que analiso que teu mal me fez bem ao coração. E o sinto satisfeito. E essa emoção faz mais bonito o mundo aonde eu for, pois aquele que tem vida interior não padece do mal da solidão. Eu canto, eu assobio, eu chuto a grama que esverdeia dos campos a paisagem e me acena no breve da passagem de quem segue sem rumo e sem programa, curtindo a vida e acalentando a chama de ser um ser a mais na multidão; que faz do abraço um gesto de perdão e do sorriso um rito promissor. Pois aquele que tem vida interior não padece do mal da solidão. Sou poeta do amor, versejo a vida, sem maldades, sem mágoas, sem vendetas, cantor das musas dos anacoretas, crente de espera da ilusão perdida. Mas se me perco da esperança crida, logo me encontro em minha abstração, sem mais te ouvir e a te dizer que não há mais lugar pra tanto desamor. Pois aquele que tem vida interior não padece do mal da solidão. Basta que seja sol, que brilhe a lua, basta do céu o cintilar de estrelas. Basta ao meu verso o vezo de entendê-las, pois quando as canto a solidão recua. Basta à minh’alma essa pureza nua que me eleva da noite à imensidão. Basta ao vento mareiro a viração para que me navegue viajor. Pois aquele que tem vida interior não padece do mal da solidão. Que sejam tuas todas as distâncias Que seja tua a solidão de mim. Amamos, juntos, o começo e o fim, e findamos, nós dois, as importâncias. Calaram-se os ciúmes, as ganâncias, a lonjura alijou a obsessão. Sem penitência e mais expiação, sigo sendo das musas um cantor. Pois aquele que tem vida interior não padece do mal da solidão. JPessoa/PB oklima
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