POEMA OBLIQUO
Estou sempre distorcendo o reto em favor do oblíquo.
Não pergunto ao tempo se vou ou se fico;
Vivo sempre em alerta, na retaguarda,
Feliz ou infeliz sobrevôo o que me aguarda;
O inusitado, o antigo, e o solene.
Grito com fúria ao infalível que pretende
Esfacelar meus conceitos de vida.
Ainda que me maldiga, percebo ser inserida
neste céu de nuvem torta.
Em mim nada mais comporta;
Estou repleta de erros e farta de acertos.
Ou atravesso o destino à nado exigindo direitos,
Ou vou de barco, acenando para as oportunidades,
Entregando-me a elas como a amante eleita.
Reviro o avesso da minha faceta,
Deito para fora as minhas meias-verdades
Subtraindo o que de bom me restou.
Assim, meio alheia me vou.
Sirvo ao Deus da interrogação
Que com esforço ainda tenta suprimir
O inefável e corruptório X da questão.
Agora sugue, língua voraz, o meu cansaço,
Para que eu possa descansar em ternos braços;
Sonhar venturas sem medo de dormir.