ESTOU SÓ

Deixei meu coração partido

nas calçadas lamacentas do itinerário perdido.

Bêbados pisaram e soltaram

Seus escarros com cheiro ocre por sobre o sangue embebido .

Caminhei trôpega, de peito vazio e lacre profundo,

Como uma sombra que se esgueira pelos becos da vida,

Com medo da noite e do mundo,

Tripudiando com a face do horror em mim inserida.

Os titãs já recolhem o manto de estrelas, e a claridade me apavora!

Sou Dora, sou Cora ou sou Berenice?

Desváiro fecunda de opróbrios na minha sandice,

e, consigo fugir do amaranhado de sóis

tecidos pela insipidez de meus nós,

desvelados pela avidez das quimeras.

Estou parcialmente vestida de som...

do barulho que escoa das gretas da rua,

embora sinta-me repletamente nua.

Estou só...eu e o vento que sibila nas frestas do tempo.

Tenho que caminhar para chegar

onde eu possa ficar com meu desalento.

Tento...ser eu, por fugaz momento,

e descubro que me assimilo ao fantasma de mim;

o que gargalhou da miséria do mundo

num esgar profundo

Inclemente à sua dor.

Agora sou nada... aonde for.

Aonde estiver meus restolhos

Serei apenas o que colho

para não deixar matarem em mim o amor.

Rose Arouck
Enviado por Rose Arouck em 17/01/2007
Código do texto: T349378