Estamos…
Algures no Pólo Sul…
No topo do mundo
Ou melhor
No seu fundo
De onde podemos ver as estrelas
Com uma tal claridade
Com uma tal clarividência
Que quase as podemos tocar
Mas não é essa a questão
Estamos no topo
Ou no fundo
Mas teimamos
Em não percepcionar
Esta estranha
Mas bem real
Dimensão…
Sós
Mas é como se estivéssemos no meio de uma multidão
No meio de um estádio
A assistir a um concerto
Cheio de ruído
Ou de música
Estamos os dois
Rodeados por uma tal solidão
Por um tal silêncio
Que não nos deixa escutar
Um ao outro
Não nos deixa ouvir
Que na realidade
Não parece nada disto
Parece que pelo mundo
Estamos acompanhados…
E talvez estanhamos de facto
Talvez esta solidão
Este isolamento
Seja uma ilusão
Porque quando um homem e uma mulher estão sós
Perante um e outro
Trazem sempre algo consigo
As suas memórias
Boas ou más
Os seus pensamentos
A sua forma de sentir
Que transmitem inevitavelmente
A quem amam
Quando não deviam trazer
Nem ter nada
Só para essa pessoa
Deveriam existir
Mas não
Repetimos
Vezes sem conta
O nosso elo mais fraco
Ou a nossa força secreta
Depende do ponto de vista
Trazemos connosco
A nossa socialização
Que por estúpido que pareça
É ela que nos coloca no centro de tudo
Mas também é ela
Que nos trás
Nos devolve
A mais confrangedora solidão…