Opereta da partida
Estou me dissolvendo bem aos poucos...
Diante do veneno, sorvo um encanto.
Gota a dia e dia a gota, bebo deste mel.
Deixo que acreditem que estou dispersa,
Todos que são tão seriamente amargos.
É tão solene a amargura destas gentes,
Daquele tipo, que me faz rir inocente;
Nos momentos que dizem não poder rir.
Não suporto o peso, sou balão de gás,
Não adianta me prender, vou escapar!
Ouço e vejo uma belíssima ópera de grilos.
Não sabem, não entendem esta arte tão arteira.
Estou me esvaindo aos poucos e com cuidado,
Faço alarde e deixo rastros que me denunciem.
Irei aos poucos para que os loucos percebam,
Quero que me sigam nesta ida sem destino,
Na grande aventura de não saber o que virá.
Esta partida, repartida em partes tão lentas,
Não é só minha, terei loucos por companhia;
Loucos de alegria, de poesias, de risos sem igual!
Faremos nossa opereta inusitada de grilos loucos,
Num voo de borboletas, vaga lumes, pirilampos,
E de todos que voem além da lâmpada do poste.
Cordões ficarão presos e adormecidos no chão,
Mas nós, os loucos balões, fugiremos das amarras.
Que os amantes dos seus pesos sejam felizes também!
Não adianta quererem me entupir de lágrimas,
Sou riso alegre e imprevisto, não me adianto, eu voo!