Licor de Pêssego

A vida me era servida numa taça de sal.

Só depois de te conhecer, meu amor, de compartilhar de tua vida, é que eu vim a apreender todo o significado da palavra Prazer.

Até então, quase sempre enclausurado num distanciamento inóspito, a doçura era, para mim, uma coisa apenas pressentida

Que me soava abstrata: algo como a carícia de uma brisa ligeira no fim de uma tarde de Outono – impraticável, tal, entre seres humanos acontecer.

Então, a bordo de um mantra, escoltada por divindades tântricas, tu vieste.

Em tua chegada encarnaste o Verbo, (aquela que se fez Mulher entre meus braços) um inesperado Quasar dourado minha vida a iluminar.

E hoje, muitas luas vividas, minha amada, tu és, em teus atos e gestos, uma poesia sem fim, composta com estrofes repletas de plêiades de versos que não escrevo:

(Versos que só declamo no aconchego de nossa alcova, silenciosamente, a deambular nas profundezas de teu caricioso olhar.)

E o mundo, enfim, transmutou-se: fez-se belo.

A doçura, explicitada através das notas de tua voz pronunciando meu nome, ganha forma consistente, adquire contornos reais

(O nascer do Sol, tão comum antes, tem novas cores agora; e, até a Lua, (rainha da noite nos céus) não mais daqui quer ir embora.)

E é nessa taça de licor de pêssego que tu me dás, repleta do prazer sobre-humano de fazer amor contigo, que me deixo embriagar, a te querer por demais...

...(Completamente perdido) um colar de mil pérolas a confeccionar, (enquanto o Sol poente se esvai) juntando, cuidadosamente, cada um de teus sincronizados ais.

Amar é um sentimento tão carregado de Magia, que praticamente tudo que envolve o Ser que amamos nos enche de desvelo: desde aquele lúdico olhar que trocamos durante a espera de um caixa livre no supermercado, até a fragrância irresistível do cheiro de banho tomado que evola do corpo da pessoa amada.

É certo que nós, humanos, quando impregnados de Amor, atravessamos a ponte que separa a divindade do Homem – tornamo-nos, numa eucaristia amorosa, deuses constituídos de carne e sangue: amantes imortais.

Terra dos Sonhos, Tarde de Sexta-Feira, Pós Lua Cheia de Fevereiro de 2012

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 10/02/2012
Reeditado em 20/04/2020
Código do texto: T3491460
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