José Maria Barbosa du Bocage
Cara amiga,
Quando falamos em Bocage (José Maria Barbosa du Bocage) as pessoas acham que
ele era pura sacanagem. Ledo engano. Um dos maiores poetas do seu tempo,
ousado para a época em que sua cidade natal, Lisboa, era uma das capitais
mais conservadoras da Europa, tratou o amor sem dogmas e sem segredos. Este
seu soneto é atualíssimo:
A frouxidão do amor
A frouxidão no amor é uma ofensa,
Ofensa que se eleva a grau supremo;
Paixão requer paixão, fervor e extremo;
Com extremo e fervor se recompensa.
Vê qual sou, vê qual és, vê que diferença!
Eu descoro, eu praguejo, eu ardo, eu gemo;
Eu choro, eu desespero, eu clamo, eu tremo;
Em sombras a razão se me condensa.
Tu só tens gratidão, só tens brandura,
E antes que um coração pouco amoroso
Quisera ver-te uma alma ingrata e dura.
Talvez me enfadaria aspecto iroso,
Mas de teu peito a lânguida ternura
Tem-me cativo e não me faz ditoso.
Beijos,
Plinio