GRUTA

Da fumaça do cachimbo sobe um arco-íris virado lua

da saudade no meu acalanto nasce um querubim

q'encanta romeiros e ninguém jejua

Meu amor é um te chamar tão vasto que os becos vazios

são o meu grito esparramando das poças de chuva

estrelas penduradas no céu escuro

Eu sequer sei aonde estou, pois acordei numa praça

aos pés da estátua que sangrava a degola

da cabeça sorridente que o anjo fêmeo espadeou no chão

Por onde eu sigo enxergo os morangos pulsando teu nome

e o sumo das mangas pinga o néctar que te desliza da gruta

como posso morrer em paz se o teu amor sobe dos meu poros

feito música?

Como posso viver a fé se o meu sexo é a brasa roxa ecoando bravura?

Eu apenas recolhi as corrupções da calçada e inventei a linguagem

cansado de ouvir o louco explicar sonhos pelos gestos

entendi na flor que o teu corpo é a minha casa

e as tuas escâncaras o fogão que eu alimento com a lenha de todas as taras