CONTA-ME TUDO
Sá de Freitas
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Reparta comigo um pouco das tuas dores,
Que as misturarei com as minhas,
E sofrerei sozinho, porque cada gota do teu pranto,
É como se fosse ácido a corroer-me o coração.
Conta-me quantas ingratidões sofreste,
Pelo que fizeste de bem, para que eu consiga
Sorver, gota por gota, a grandeza do teu íntimo.
Deixa-me vagar na imensidão
Dos teus sonhos
E contar estrelas no céu da tua esperança...
Deixa-me voar contigo
Pelo Espaço das tuas lembranças,
Para poder sussurrar aos teus ouvidos,
A canção do meu passado,
Que apesar dos pesares foi bom.
Conta-me um pouco só dos teus amores perdidos,
E eu te direi que o verdadeiro amor não se perde,
Nem se enfraquece, nem some porque é indestrutível.
Os que perdemos são amores falsos,
Amores genéricos, clonados
Com o DNA do desejo que se vai,
Como se vão nossos convidados, após saciarem-se
No banquete que lhes oferecemos.
Conta-me tudo,
E quem sabe eu encontre um lugar para ficarmos,
Onde poderei fitar com firmeza,
O brilho dos teus olhos,
A espontaneidade do teu sorriso,
A beleza do teu corpo
E depositar em teu ser,
Este incalculável querer,
Que desde há muito está retida em meu íntimo.
Conta-me o que sentes por mim,
Apenas com o teu respirar ofegante,
Com teu olhar satisfeito
Após aspirares o cheiro
Da nossa transpiração.
Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil