Poemas para Maria Xl
Maria Diva
A cortina se fecha.
Fim do espetáculo!
Maria volta ao palco inúmeras vezes...
Exausta e imponente
Arrasta suas vestes pelas coxias.
Não fala, a garganta está vazia.
Fria, tremula, emocionada,
Entra no camarim,
Rosas vermelhas, jardins!
A camareira atônita e atordoada
Sussurra na porta:
Aguarde, Monsieur, Monsieur e Monsieur...
Maria olha-se no espelho,
Fita-se intensamente!
Sente que aquele momento é dela
O mundo é sua janela.
Pensa que voa, que pode voar...
Pássaro que canta, voa!
À fiel camareira continua alerta
Num canto do camarim.
Espera as ordens de Maria,
Conhece os hábitos da Diva
Está pronta para acatá-los.
Nasceu para ser servil e amável.
Maria olha para ela, ela sente medo
Apesar de confidente de segredos...
Acende meu cigarro,
Fumo muito quando estou nervosa!
Eu sei senhora, eu sei senhora!
O pesado vestido de veludo azul marinho
É desabotoado, botão por botão, de madre pérola
E retirado do corpo de Maria, joia sobre joia
E as joias retiradas uma a uma.
Tiara, braceletes, pulseiras e anéis,
Presentes de Reis, Sultões e admiradores fiéis.
Colocadas no cofre.
Maria sofre.
Medo de perder a voz,
Da solidão dos hotéis,
Dos partidos interesseiros,
Dos amigos infiéis.
Pensa, mirando-se fixamente no espelho
Retirando a maquiagem...
Ato que ninguém conhece,
Não conseguiram essa imagem.
Coloca rapidamente batom nos lábios,
Óculos escuros.
Repetidas batidas na porta do camarim...
Ironicamente responde:
Esperem até amanhã!
Os primeiros a beijar suas mãos,
São: Delacroix, Vitor Hugo e George Sam.