MEU CORAÇÃO É UMA ESPADA

Olho a cidade da minha varanda

e o caos parece um bicho bonito,

nem reza de padre velho adianta,

na mão afago o pássaro de coração aflito

e desperta a pergunta: eu morri dos sonhos de menino,

o que resta se eu vivo apenas no desatino?

Carros falam a mesma linguagem dos corpos malhados,

não, eu não sou contra o conforto e a beleza,

vivo o Amor nas fantasias mais loucas porque o estado

da insensatez recupera mais do que o brio a certeza:

a revolta é uma conquista na alma do sábio,

o imbecil prefere se corromper mudando o vestuário

É hora de ser extraterreno - como escutar gente drogada

e ladrões de infância? como acreditar na fada

se a magia é desordem e gargalha o embuste?

sombras no muro antecipam o fim, não se assuste,

de cavalo branco seriamos presas fáceis,

pelo submundo encontramos solidariedade e pão com os miseráveis

´

Muito além dos bancos e dos impérios - a dúvida:

qual o enigma no traçado do sorriso chinês?

prefiro a companhia do louco e do ladrão à morte súbita

de uma religião que promete em nome de um deus que nunca aparece, leis

não explicam ao meu filho porque não é possível ser maior do que o sonho,

por isso grafito no muro burguês: atender ao limite é tristonho

Porque o meu coração é uma espada com asas,

e a manhã do meu galope heroico é bater na porta

da mulher que eu amo mais do que a mim mesmo

e dizer: não preciso de rima p'ra ser teu poeta

porque é o meu Amor tão imenso que as estruturas

são pobres perto de tanto sentimento: meu Amor é louco, é além

deixo do lado de fora: capitalismo tardio, partidos, jornais sônicos,

tudo o que interessa é fazer amor bebericando vinho na frente da lareira,

o resto é idiônico!