Ao compositor Zequinha de Abreu...



Chorinho de Morena


Ela tem mais notas que " Tico-Tico no Fubá"
Morena foi para a roda de chorinho fazer o cavaco chorar
Rodopiava leve feito um pião
Deus me livre desse negócio de paixão
Gastava a sola na gafieira da estudantina
Com jeitinho e malícia de menina
Possuia o gingado típico da mulher brasileira
Pensava aquele rapaz enquanto observava a saliência daquela moça mineira
Levantou-se e pediu uma dança a ela com toda a educação
Tinhosa ela ergueu o queixo desafiadora e disse não
E foi toda requebrante para o meio do salão
Deixando em pedaços mais um safenado coração
Mas ele também tinhoso não se deu por vencido
Nada atrai mais uma mulher do que um homem decidido
Logo ficou sabendo que a moça iria viajar
É hoje que eu faço aquela morena nos meus braços chorar
De prontidão no jardim ficou aquele rapaz
Lá vem ela...a inconfundível moça de Batatais
Arrastando uma mala enorme na mão
Cobrindo suas curvas com aquele leve vestido de algodão
Vindo assim toda faceira
Ai se eu te pego moça brejeira !
O rapaz não perdeu tempo não
Jogou a moça no ombro e segurou a mala com a mão
A moça esperniava e gritava sem parar
O rapaz advertiu:
Fica quieta morena senão umas palmadas vai ganhar!
Ela implorava clemência a Papai do céu
Mas o rapaz não parecia disposto a soltar a doce Raquel
Ele deve ter confundido poesia com encanto
Bem feito moça!
Quem mandou escrever poesias de amor lá no Recanto
Ele ouvia durante a caminhada a moça choramingando
E aquela maldita mala a cada passo mais pesando
Então ele a desceu dos ombros com carinho
Encostou a moça no peito como se segurasse um manhoso cavaquinho
Zequinha de Abreu compôs Tico-Tico no Fubá
E o rapaz apertou entre os braços uma morena a soluçar
Seu castigo será aprender as notas musicais
E dos meus braços nunca mais sair moça de Batatais
Ela romântica nos braços se deixou novamente carregar
Dó, ré, mi, fá
De hoje em diante dançará chorinho só para mim
Sol, lá, si
E a mala ficou esquecida ali naquele chão
Quem vai pensar em roupa no auge de uma arrebatadora paixão
Quando ele jogou a morena no ombro
Tirando os pés dela subitamente do chão
Jamais imaginaria
Que o destino daquela morena seria
Dançar chorinho para sempre no palco do seu coração...






                    





 









Raquel Cinderela as Avessas
Enviado por Raquel Cinderela as Avessas em 02/02/2012
Reeditado em 03/02/2012
Código do texto: T3476775