Segurámos aquele momento…
Como se fosse o último
Ou o único
Que fôssemos
Que pudéssemos ter
Segurámos aquele momento
Ignorando
Ou não sabendo
Que haveriam outros
Se esse momento se viesse a perder…
E por isso congelámos tal
Para o tempo não passar
Para ele não ser alterado
Para que não pudéssemos envelhecer
Obliterando o facto
De por ele existir
Esse tempo passava
E desde que nascera
Já se estava a perder…
Tendo com ele uma relação dualista
Tanto o tendo tratado como o faz uma criança
Sem ligar ao que virá depois
Porque o depois nunca existirá
Existe na pessoa que a irá suceder
Porque não sabendo
Essa criança age de facto
Como se nada dela restará
Ou então
Tendo uma perspectiva adulta
Onde se mistura o romantismo natural
Com a frieza cínica da realidade
Sentindo e espremendo esse momento
Até dele extrair tudo
Até a sua essência
Querendo com tal
Ficar com uma espécie de luz
Que nos iluminaria
Quando estivéssemos nas trevas
Da ausência um do outro
Para respirarmos
E termos alento
Porque sabíamos que tal iríamos perder
Com o simples passar do tempo
E por breves instantes assim…
Segurámos aquele momento…