PUNHO SELVAGEM

Gosto de mastigar os prédios em noite clara

só é vermelho o grito que dá nome à esquina

quando é balada a metralha

Pássaro da noite só pia quanto aponta

o número no cemitério

a última canção de amor é no bordel

porque todo o resto desapareceu

Quanto mais mordaz a ironia

mais aguda é a tristeza

quanto mais intensa a fome

maior o sentido da beleza

Pois se o coração é inútil sem amor declarado

a loucura é admirada morto o artista finda rebelião

quaternária palma bruscamante de armas

no punho selvagem a verdade pouco importa

se a razão urubuza vaidade

café na xícara - o que é o desdém sem piedade?