Arte da volúpia
Minhas mãos procuram o devaneio, em tuas mãos.
Meu corpo deseja o teu corpo, nas minhas mãos.
E meus olhos anseiam por te ver nas minhas mãos.
Minha vida vive sem sentido, na espera,
Feito árvore fecundada na estrada
Onde não há vácuo, nem tempo, nem espaço,
Onde só há flores sem espinhos.
A mercê do vento, da garoa e da névoa seca!
Sinto frio e imagino que teus braços são o cobertor.
Estou à tua espreita, feito lobo uivando
Feito céu com tons azuis e violeta.
Feito algodão, para ser linho,
Feito uva e depois vinho,
Casulo de lagarta saindo borboleta.
Estou à tua espera, do jeito que a areia espera
A última onda que o mar ainda não formou.
Feito estrela que espera a noite para a noite,
Feito colmeia de abelhas fazendo mel,
Cobiçando a lua branca e nua!
Desmaiada no céu.
Estou a teu deleite, feito delírio de criança
Diante de um bolo de confeitos.
Feito os anéis que envolvem Saturno,
Para te extravasar na arte da minha volúpia.