Balada para um louco
(o dia da condenação)
Pássaro pequeno,
se eu te prendia nas mãos,
por que te deixei ir,
quando só querias ficar?
Passarinho sem juízo,
se tinhas a mim no coração
por que partiste,
quando não querias ir?
Dei por mim e
fui bater à tua porta.
Muito tarde, já não estavas lá...
- Louco! O que fizeste?
Disse-me o juiz.
- Se a tinhas nas mãos e
ela a ti no coração,
por que não a seguraste e
com mais força a prendeste?
Condenado serás
a procurá-la em vão.
Viverás em camisa de força.
Alimentar-te-ão de amor
quando quiserem,
não sempre que precisares.
Rastejarás com medo
qual serpente sem veneno.
Suplicarás migalhas;
humilhar-te-ão.
Zombarão de ti pelos caminhos;
as pedras esfolarão
os teus pés descalçados.
Espremerão teu sumo
e te verás abandonado.
Para secar as lágrimas,
o lenço da poesia
não terás jamais.
Não te permitirei as rimas;
negar-te-ei a métrica.
Nem mesmo poeta tu serás.
Olha para o chão e vê:
ali dormirás o teu sono aflito,
sem cama nem colchão.
Nunca despertarás.
Se alguém um dia
disser que te ama de verdade,
não te alegres, será por caridade.
Condeno-te a nunca experimentares
a recíproca do amor:
amarás, mas não serás amado
e se porventura fores amado,
não amarás.
Contudo, ainda te concederei uma chance,
um indulto talvez:
se tiveres sorte,
quando chegar a morte,
do outro lado
a encontrarás.
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se eu te prendia nas mãos,
por que te deixei ir,
quando só querias ficar?
Passarinho sem juízo,
se tinhas a mim no coração
por que partiste,
quando não querias ir?
Dei por mim e
fui bater à tua porta.
Muito tarde, já não estavas lá...
- Louco! O que fizeste?
Disse-me o juiz.
- Se a tinhas nas mãos e
ela a ti no coração,
por que não a seguraste e
com mais força a prendeste?
Condenado serás
a procurá-la em vão.
Viverás em camisa de força.
Alimentar-te-ão de amor
quando quiserem,
não sempre que precisares.
Rastejarás com medo
qual serpente sem veneno.
Suplicarás migalhas;
humilhar-te-ão.
Zombarão de ti pelos caminhos;
as pedras esfolarão
os teus pés descalçados.
Espremerão teu sumo
e te verás abandonado.
Para secar as lágrimas,
o lenço da poesia
não terás jamais.
Não te permitirei as rimas;
negar-te-ei a métrica.
Nem mesmo poeta tu serás.
Olha para o chão e vê:
ali dormirás o teu sono aflito,
sem cama nem colchão.
Nunca despertarás.
Se alguém um dia
disser que te ama de verdade,
não te alegres, será por caridade.
Condeno-te a nunca experimentares
a recíproca do amor:
amarás, mas não serás amado
e se porventura fores amado,
não amarás.
Contudo, ainda te concederei uma chance,
um indulto talvez:
se tiveres sorte,
quando chegar a morte,
do outro lado
a encontrarás.
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N. do A. – Na ilustração, Melancolia de Edvard Munch (Noruega, 1863-1944).