Mais Uma Chance Perdida

Um rosto lindo, moreno,

dono de olhos mais lindos, amenos,

veio ter a meus olhos um dia.

Fazia sol.

Infelizmente não ventava o bastante

para desarrumar aqueles cabelos pretos,

manto escuro a proteger os ombros dela

do arrebol.

Uma, duas, três vezes sorriu.

Fiquei que nem bobo, parado –

“quem nunca comeu melado” –

e sorri também.

Devo aproveitar e falar com ela?

Mas como você é bobo, é claro!

Peça-lhe um copo d’água, lhe dê um esbarro,

lhe diga: vem.

A água chegou num pires.

- Pra que tanta gentileza, beleza?

- Trago mais se tu pedires,

e ainda disse com clareza:

“Não custa nada ouvir,

não custa nada falar,

não custa nada sentir,

não custa nada tentar”.

Será que a gente se encontra?

Ela não disse que não.

Achou que o assunto era sério.

Preferiu sorrir.

Cavaleiro perdido no espaço,

sem ter ninguém pra levar,

sem ter ninguém pra falar,

preferi ouvir

a voz de algum passarinho

que lhe falasse de um ninho.

Você encontra comigo?

Ela aceitou.

Foi esplendoroso o dia,

e outros encontros tivemos.

Chamei-a pra ir ao cinema

e ela gostou.

Foi mesmo a primeira vez.

Não haveria nada demais;

comprar as entradas e pronto:

ver o filme.

Mas de qualquer modo, pensei:

data importante pra mim –

isto é que é quase, isso sim,

o meu filme.

Fazia sol quando ela aparecia.

Alegria era o que ele me trazia.

Mas nem sempre ele é presente,

o sol se vai.

Aconteceu numa noite –

é claro, sol não havia:

chega séria, não me olha.

Eu digo, ai.

Queria não vê-la tão fria

como a verdadeira mulher,

mas quanta coisa faltava...

Parecia.

chateada ou algo assim.

Se olhava um pouco pra mim,

parece que via um estranho.

Eu sofria.

Guerreiro injustiçado, eu ali

desprezado forasteiro me senti.

Mas não levou muito tempo: resolvi

morrer?

Ou ir embora. Vou pra onde?

Se ficar, vai haver enfrentamento;

se voltar, é o covarde que só quer

viver.

A situação era a mais clara.

Parada ali na minha cara,

estava a decisão mais cara:

herói ou covarde?

Nobreza, orgulho, altivez,

Tudo palhaçada, bobagem.

E onde ficou a vitória?

Miragem.

E o herói, parece, morreu

ou, pra falar a verdade,

foi aquele que correu –

covarde.

Abandonou a peleja

sem lutar, sem resistir.

Foi mais fácil recuar,

se evadir.

Muito longe de ser um herói.

Se a vontade de vê-la morresse...

Mas desse susto não morro,

socorro...

A mais fantástica utopia.

Se me conhecesse um pouco,

o covarde viveria ou o herói

morreria?

Rio, 09/10/1967