Estrangeiro
Chegou com o vento nos pés.
Tomou o fino sumo da flor de laranjeira.
Fez uma dancinha valsada,
conquistou o espaço,
sacudiu seu longo bico e partiu.
Chegou com o vento nas asas.
Ensaiou um ou dois passos
de uma dancinha estranha e circular.
Pousou nas minhas fertilidades,
ciscou e partiu.
Chegou com processo de lesma.
No rosto, uma ternura branca.
Suas mãos tocaram minhas folhas transformadas em pontas.
Proferiu uma dança agonizante.
Choveu no céu de seus olhos.
Recompôs-se arco-flecha e partiu.
Chegaram com aquele estrangeiro
as gotas de chuva, vermelhas.
Tingiram a mim,
reconfiguraram meu tempo e ritmo
e como com água, partiram.
As vermelhas e intensas gotas
encharcaram-me daquele esquizo-puro sentimento.
Nos floreceres ele chega,
faz umas danças eternizantes,
e se vai.
Fértil amor:
de todas as terras;
de terra nenhuma.
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