À MINHA ANJA.

A minha anja, acredite,

vem aparando meus rebites,

vem clareando meus becos escuros,

vem escalando meus mais altos muros,

vem acarinhando meus tropeços, todos,

vem desembaraçando meus becos sem saída,

vem torneando meus rudes novelos de fé

e sabe lá Deus mais tantas coisas.

Casei com uma anja, de fato,

que desparafusa meus medos, tantos,

que desancora meus prantos,

que me ajuda a desviar das pedras que insistem em alvejar,

que coloca meus ventos nos eixos de luz,

que limpa meus lodos, musgos, encardidos tantos,

que me faz feliz, muito feliz,

plenamente feliz.

Casei com uma anja, mesmo,

que ajuda a me caçar quando estou à deriva,

que dá trancos no coração para fazê-lo voltar a vibrar,

que drena minhas lágrimas, tantas, até as que ainda nem tenho,

que abençoa com seu perdão infinitas vezes, infinitas vezes.

Casei com uma anja, sim,

que faz brotar o melhor de mim

que faz meus calos menos talos e mais ralos,

menos ásperos e mais festim.

Casei com uma anja, certo dia,

que virou meu ventre, minha cria,

que dá pitaco quando deve dar,

que sai da toca quando deve sair,

que cospe fogo quando deve cuspir,

sem medo de respingar pra tudo que é lado,

pra tudo que é lado.

Casei com uma anja, de fato,

que estará sempre à frente do meu próximo ato,

que estará sempre rente à minha alma,

que estará sempre arrematando meu sonho,

que estará sempre dádiva, bálsamo, fronha,

que estará sempre amada enquanto tiver sangue,

enquanto tiver fôlego para merecer ficar por aqui.

Pra minha querida mulher, Quézia.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 18/01/2012
Reeditado em 19/01/2012
Código do texto: T3447545
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