você e o falso pintor
cabelos despenteados
as mechas douradas que inflamam
o meu pensamento esquecido
mas são as pernas que falam
embora sob o tecido
translúcido da saia ou camisa
comprida até aos joelhos
de olhar lascivo e macio
porém me conduzem o alívio
de não se afastarem demais
pra que eu não perca o pudor
e me ajoelhe depressa
diante da musa do amor
diante da musa sentada
com a minha boca encharcada
atrás de uns favos de mel...
mas me lembrei que eu devia
continuar com o retrato
eu que nunca pintei
nem sei se me lembro do fato
de que ela não estava sentada
senão na imaginação
de um falso e esquecido escritor
poeta de ocasião
que de pintor não tem nada
a não ser a doce ilusão
de achar que uma linda mulher
pode lhe dar sua mão
o beijo, o joelho e até
aquilo que ela quiser...
Rio, 01/07/2006