LEOPARDO ALBINO
sigo o leopardo albino
pelo labirinto da floresta
silenciosa
da cidade ainda adormecida
roçando-lhe ao de leve as pegadas
apenas levado pela ânsia
dolorida
do teu perfume
cercado pelos muros
e cego pela perseguição
dou de repente por mim
exausto nos teus braços
de suave penugem verde
como asas de pássaro
tropical
recebo então o mel denso
do teu seio de porcelana
e a felicidade visita-me o rosto
como um bando de anjos
no céu
devagar dizias
meu menino
e logo sonhava voar dias e dias
nas asas da ave ainda suada
e via como o leopardo albino
que rastreava sem tino
nas sombras
era sempre
eu
José António Gonçalves
(08.01.05)
IN: Arte do Voo (Antologia Poética)
Organizado por António Furnier
Coleção Ausência Quebrada - 12
Editora Ausência - Junho - 2005