Um Não Poema

Pediste-me um dia um poema,

poema que fosse teu.

Como ave delicada

que agoniza quando presa,

o poema nasce na alma,

movimenta-nos o sangue

com a força do desejo,

humedece-nos os lábios

com a ternura de um beijo,

dança na bainhas dos versos,

plana nas asas da calma,

amordaçado, ele morre

se soletrado fenece.

Poema não compreendido

torna-se vago, emudece.

Procurei o teu poema

no abraço da entrega,

nas pegadas paralelas

de mãos dadas junto ao mar,

na cumplicidade da noite,

na comunhão de um olhar.

Só descobri versos vagos

dançando ao som do medo,

abandonos calculados,

reserva e o segredo.

Pediste-me um dia um poema,

poema que fosse teu.

Mas nesses versos dispersos,

o poema se perdeu.

Não consegui e foi pena.

Poema não construído

torna-se num não-poema!

Helena Correia
Enviado por Helena Correia em 14/01/2012
Código do texto: T3440846