Uma Vez Uma Rainha
Ao ver a rainha desaparecer,
senti minh’alma arrefecer...
Com ela está meu pensamento
no rastro do passo macio,
haurindo-lhe o cheiro do mato,
presença feliz desse olfato
que põe a cadela no cio.
Naquela noite não dormi,
porque a rainha não vi.
Ficando com ela, tão bela,
um dia de mim tão distante,
achei que o amor que eu tinha
com aquela tão jovem rainha,
de tudo era o mais importante.
Depois que vai a felicidade,
chega depressa a saudade.
De todas as coisas de nós,
não pude com ela fugir:
do olhar curioso e cruel
dos outros, de um mundo de fel,
do que não se quer consentir.
Mas, linda e divina a rainha
livrou-me do medo que eu tinha.
E lá perto do azul do céu,
no verde maior da colina,
é que ela decide amar
e eu só querendo ficar
com tudo o que ela me ensina.
E então ela vem resumir,
eu páro logo ao ouvir:
“ se olhares agora em mim,
verás que meus olhos te beijam,
minha boca te olha,
meus ouvidos ter acham
e eu te reclamo,
porque te amo”.
Rio, 1966