Teu vulto de arame teria me amado?...
Era um vulto de arame que vinha na noite,
Arame de espinho de pontas agudas.
- Era um Fantasma na noite encardida??
Era um homem magoando assim vinha vindo?...
- Era um vulto de arame, de arame farpado,
Aquele que rasga as entranhas e a pele
E não deixa passar por onde se estende...
Um homem vestido de arame farpado
Caminhava trazendo uma rosa na mão...
(- Será que ele tinha algum coração?...)
Impenetrável, frio, afastando os demais,
Parecia que vinha olhando pra mim.
Sim! Ele vinha nesta direção
Onde eu me encontrava, aspirando um jasmim...
Perfume exalavam as damas da noite
Enquanto ele vinha em metálico som;
mas olhos mui doces enfeitiçaram a mim...
Parou ante mim e estendeu-me a rosa,
Perfumada a flor... Pensei eu assim:
“Terá seus espinhos e virá me ferir!”
Mas ele havia tirado os espinhos
E deu-me a rosa, o seu coração...
E afastou-se de mim...
Enrodilhou-se em si mesmo:
Era um nó só de arame,
Um nó sem fim...
Fechou-se ainda mais e impenetrável
Nada falou. E olho-me assim
Como se eu fosse de gelo ou marfim...
Fugi com a rosa abraçada ao peito!
Eu veria outra noite, encardida, assim?...
... Faz tanto tempo... E eu lembro seu vulto,
Seu vulto escuro com a rosa carmim
Vir dentro da noite... Da noite sem fim...
Teria ele ao peito algum coração?...
Teria! Escondido no meio de espinhos,
Pois trouxe uma rosa, uma rosa pra mim...
... E ele fez com que eu o amasse
E por ele, então, me apaixonasse
E numa noite, escura, encardida,
Igual como aquela, uma noite sem fim,
Ele foi para longe, pra longe de mim...
Era um vulto de arame, de arame farpado...
Mas quanto eu amei seu olhar magoado!
Dar-lhe-ia a vida pra vê-lo sorrir...
Amei-o! Como o amei, por anos a fio!...
Buscava-o em cada dobra de esquina;
Em cada canto, meus olhos voavam,
Saiam das órbitas procurando-o pra mim!...
Muitos anos passaram... O amor sempre vivo!
Chorava baixinho pelo vulto que vi
E nele enxerguei o amor que senti...
Então numa tarde, num Sábado manso,
Mil anos depois que ele partiu
Eu o vi... Passou... Fingiu não me ver...
Segurava gentil, a mão de uma dama,
Era todo veludo, mui belo e macio...
Encolhi-me! A morte eu clamei e busquei.
Mas quem ama mal, não adianta morrer:
O Amor continua - não se pode esquecer...
Teria me amado?... Eu teria sonhado?...
Eu teria sofrido estes anos assim
Por uma ilusão, fogo-fátuo, visão?...
... Hoje eu só ando olhando pro chão!...
Não quero, outra vez, vê-lo belo. de mão
Com a linda rainha que me substituiu...
- Por isso, eu só vejo as poças de lama
E nunca mais pude eu ver estrelas
Nem vultos que tragam uma rosa na mão...