é domingo pra se enfeitar?

Tem horas que a gente pensa que acabou o açúcar do fundo do copo, no pote, em tudo. E lá vou eu e bebo tudo amargo. Vou bebendo amargo na segunda, na quinta, no domingo. Vou me acostumando, na terça, na sexta, em todas as feiras. Não há mais gelo na bebida, comida fria. Acho um caco de vidro no sapato, preguiça de desamarrar o cadarço, deixo lá... e vai sangrando, sangrando, sangrando... até que amanhece outro dia. Continuo com a mesma rotina: dois ônibus até o trabalho, um até a livraria, outro até a universidade, e um último até deus sabe onde, às vezes casa, às vezes barzinho, às vezes salto do ônibus em qualquer parada e decido andar sozinho. Procuro qualquer música triste, coloco os fones de ouvido, as duas mãos no bolso da calça, não, uma mão apenas no bolso da calça, a outra procurando pensamentos desfeitos na cabeça. A surpresa maior, foi numa noite dessas qualquer de quinta... encontrei um pote de açúcar enorme na cozinha. E eu fui adoçando as segundas, as quintas, todos os meus dias. E fui me acostumando com essa doçura toda. Mas não vou negar não, tenho medo de acordar no dia seguinte e não ter açúcar na mesa. E aí vou voltar para a amargura, e será que vou me acostumar de novo? Será? Disseram que os melhores açúcares não duravam muito não, é verdade?