ODE SOBRE UMA URNA GREGA

BELEZA(estética) e VERDADE(ética)

John Keat

ODE SOBRE UMA URNA GREGA

Tradução: Augusto de Campos

I

Inviolada noiva de quietude e paz,

Filha do tempo lento e da muda harmonia,

Silvestre historiadora que em silêncio dás

Uma lição floral mais doce que a poesia:

Que lenda flor-franjada envolve tua imagem

De homens ou divindades, para sempre errantes.

Na Arcádia a percorrer o vale extenso e ermo?

Que deuses ou mortais? Que virgens vacilantes?

Que louca fuga? Que perseguição sem termo?

Que flautas ou tambores? Que êxtase selvagem?

II

A música seduz. Mas ainda é mais cara

Se não se ouve. Dai-nos, flautas, vosso tom;

Não para o ouvido. Dai-nos a canção mais rara,

O supremo saber da música sem som:

Jovem cantor, não há como parar a dança,

A flor não murcha, a árvore não se desnuda;

Amante afoito, se o teu beijo não alcança

A amada meta, não sou eu quem te lamente:

Se não chegas ao fim, ela também não muda,

É sempre jovem e a amarás eternamente.

III

Ah! folhagem feliz que nunca perde a cor

Das folhas e não teme a fuga da estação;

Ah! feliz melodista, pródigo cantor

Capaz de renovar para sempre a canção;

Ah! amor feliz! Mais que feliz! Feliz amante!

Para sempre a querer fruir, em pleno hausto,

Para sempre a estuar de vida palpitante,

Acima da paixão humana e sua lida

Que deixa o coração desconsolado e exausto,

A fronte incendiada e língua ressequida.

IV

Quem são esses chegando para o sacrifício?

Para que verde altar o sacerdote impele

A rês a caminhar para o solene ofício,

De grinalda vestida a cetinosa pele?

Que aldeia à beira-mar ou junto da nascente

Ou no alto da colina foi despovoar

Nesta manhã de sol a piedosa gente?

Ah, pobre aldeia, só silêncio agora existe

Em tuas ruas, e ninguém virá contar

Por que razão estás abandonada e triste.

V

Ática forma! Altivo porte! em tua trama

Homens de mármore e mulheres emolduras

Como galhos de floresta e palmilhada grama:

Tu, forma silenciosa, a mente nos torturas

Tal como a eternidade: Fria Pastoral!

Quando a idade apagar toda a atual grandeza,

Tu ficarás, em meio às dores dos demais,

Amiga, a redizer o dístico imortal:

"A beleza é a verdade, a verdade a beleza"

— É tudo o que há para saber, e nada mais.

Pontinha
Enviado por Pontinha em 27/12/2011
Reeditado em 28/12/2011
Código do texto: T3409611