Amor em tempos de cólera…

Sabes

Já não acredito no que dizem

Quando dizem que o mundo vai acabar

Ele está mesmo a acabar

Pelo menos na forma em que já não reconheço o mundo

Onde nasci

Onde aprendi na fé dos homens acreditar…

Na sua boa vontade

Na sua boa fé

Claro que ela existe

Mas de multidões

Passou a ser um algo que mora num escondido recanto

Para onde se acede através de um elaborado labirinto

Porque a sua localização poderá representar o derradeiro perigo

A quem roubou a vontade, a fé aos homens

E deixou uma sociedade sem credo, sem vontade

Que como dizia um grande homem do norte

Ficou órfã com isso

E com isso perdeu a sua ligação à eternidade…

E é neste cenário de fim de tempos

Em que toda a gente anda iludida

A pensar que vive no apogeu da civilização

É neste tempo dessacralizado

Que te conheci

E que te entreguei de forma escondida

O que me resta da alma

O que resta do meu coração…

Foi nesta terra queimada que te encontrei

E que brincamos aos espelhos

Com medo do que sentimos

Por nossa culpa

Mas também porque mostrar tal sensibilidade

Nesta terra

Tal é sinónimo de mais uma forma de exclusão

E por isso os homens e as mulheres que amam realmente

São obrigados a disfarçar tal com mil e um artifícios

Nunca se podem realmente mostrar

Porque são diabolicamente mortais

Os caminhos que queimam quem vive claramente na paixão…

E foi assim nesta terra prenha de cólera

De valores deturpados

De um jogo

Com os dados previamente viciados

Foi nesta terra de fim de nada

Neste fim de tempo

Que te encontrei

E que descobri contigo

Uma outra noção da paixão

Talvez porque em guerra

O amor é mais intenso do que nunca

Caracteriza-se por uma vertiginosa intensidade

Talvez porque o dia em que vivemos pode ser o último

E assim o presente é o futuro

É a nossa eternidade…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 25/12/2011
Código do texto: T3405364
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