Amor em tempos de cólera…
Sabes
Já não acredito no que dizem
Quando dizem que o mundo vai acabar
Ele está mesmo a acabar
Pelo menos na forma em que já não reconheço o mundo
Onde nasci
Onde aprendi na fé dos homens acreditar…
Na sua boa vontade
Na sua boa fé
Claro que ela existe
Mas de multidões
Passou a ser um algo que mora num escondido recanto
Para onde se acede através de um elaborado labirinto
Porque a sua localização poderá representar o derradeiro perigo
A quem roubou a vontade, a fé aos homens
E deixou uma sociedade sem credo, sem vontade
Que como dizia um grande homem do norte
Ficou órfã com isso
E com isso perdeu a sua ligação à eternidade…
E é neste cenário de fim de tempos
Em que toda a gente anda iludida
A pensar que vive no apogeu da civilização
É neste tempo dessacralizado
Que te conheci
E que te entreguei de forma escondida
O que me resta da alma
O que resta do meu coração…
Foi nesta terra queimada que te encontrei
E que brincamos aos espelhos
Com medo do que sentimos
Por nossa culpa
Mas também porque mostrar tal sensibilidade
Nesta terra
Tal é sinónimo de mais uma forma de exclusão
E por isso os homens e as mulheres que amam realmente
São obrigados a disfarçar tal com mil e um artifícios
Nunca se podem realmente mostrar
Porque são diabolicamente mortais
Os caminhos que queimam quem vive claramente na paixão…
E foi assim nesta terra prenha de cólera
De valores deturpados
De um jogo
Com os dados previamente viciados
Foi nesta terra de fim de nada
Neste fim de tempo
Que te encontrei
E que descobri contigo
Uma outra noção da paixão
Talvez porque em guerra
O amor é mais intenso do que nunca
Caracteriza-se por uma vertiginosa intensidade
Talvez porque o dia em que vivemos pode ser o último
E assim o presente é o futuro
É a nossa eternidade…