Amores de uma tarde

Eu brinquei com as palavras

naquela tarde , enquanto o João

tocava a sua viola.

Ele, caipira orgulhoso da vida que

levara até ali. Eu , homem medroso ,

sincero ao extremo e com orgulho

ferido por amar erradamente.

Eu amei loucamente....ele tocou por isso.

Mas , e o tu? Ele existe?

Caipira misterioso , com esperteza no olhar e

prosear abundante em comoção.

Cantava sem parar, com a voz rouca pelo

fumo de palha:- Aonde andas meu amor....

Eu dizia: - Num mar de sonhos perdidos e

amores infinitos.

Nós amamos aquele momento...momento

Inédito e alegre..arretado diria mais ainda.

Fui ficando mais a vontade , me soltando com

o embalo do arpejo do mulato sorrateiro e

desprendido. Som de primeira , que falava ao

coração ....bater o pé , recordação.

Dizia sempre em leve tom: Amei Maria ,do Lampião.

Vós que fostes de bem , amor e paz. João cantava e tocava...

A voz parou...olhou aflito. Quero mais..não pare ainda.

Desceu nas cordas....todos ouviram. Um som seco

delicado , modesto e aliviado.

Eu quero mais , quero achar amores soltos e afogados,

querendo a salvação.

Toca João , toca a viola , pois a tarde ficou caliente,

Amorosa e inesquecível.

JBorsua
Enviado por JBorsua em 22/12/2011
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