Amores de uma tarde
Eu brinquei com as palavras
naquela tarde , enquanto o João
tocava a sua viola.
Ele, caipira orgulhoso da vida que
levara até ali. Eu , homem medroso ,
sincero ao extremo e com orgulho
ferido por amar erradamente.
Eu amei loucamente....ele tocou por isso.
Mas , e o tu? Ele existe?
Caipira misterioso , com esperteza no olhar e
prosear abundante em comoção.
Cantava sem parar, com a voz rouca pelo
fumo de palha:- Aonde andas meu amor....
Eu dizia: - Num mar de sonhos perdidos e
amores infinitos.
Nós amamos aquele momento...momento
Inédito e alegre..arretado diria mais ainda.
Fui ficando mais a vontade , me soltando com
o embalo do arpejo do mulato sorrateiro e
desprendido. Som de primeira , que falava ao
coração ....bater o pé , recordação.
Dizia sempre em leve tom: Amei Maria ,do Lampião.
Vós que fostes de bem , amor e paz. João cantava e tocava...
A voz parou...olhou aflito. Quero mais..não pare ainda.
Desceu nas cordas....todos ouviram. Um som seco
delicado , modesto e aliviado.
Eu quero mais , quero achar amores soltos e afogados,
querendo a salvação.
Toca João , toca a viola , pois a tarde ficou caliente,
Amorosa e inesquecível.