MEDUSAS / PADRÕES / TOALHAS DE VENTO / ÁGUAS DE VIDRO

MEDUSAS I (2009)

Ao cravar dos ferrões, morrem abelhas,

que se dispõem a morrer pela colmeia

e vêm em bando, morte de epopeia,

qual se narrava nas histórias velhas...

Ao enviar do amor, também espelhas

comportamento idêntico. Tua ideia

se lança qual antenas; para a deia

te dás em sacrifício. Quais ovelhas,

cujo sangue se derrama em seu altar,

derramas tuas paixões, em singular

devotamento que não conduz a nada.

E todavia, essa saga milenar

vem sendo tantas vezes recontada,

quais as abelhas que morrem sem pensar.

MEDUSAS II (5 nov 11)

Ao cravar das paixões, morrem os sonhos,

jogados a seu alvo, em alcateia,

lançados sem cuidado e sem higeia,

sem precaução, sinceros e risonhos...

Eles se atiram, inocentes e bisonhos,

para mostrar-se, em termos de odisseia,

sem a menor vergonha de plateia

e então perecem, murchos e tristonhos.

Não apenas por serem rejeitados,

mas por tratados com pura indiferença

ou recebidos em plena zombaria,

que cada sonho por riso capturado

tem as asas cortadas de sua crença:

aves mantidas no cercado da ironia...

MEDUSAS III

Ao luzir dos castiçais, morrem falenas,

queimadas asas em tantas luminárias,

precipitadas em revoadas multifárias,

a renovar nos pavios chamas pequenas...

E ainda repetem diariamente as cenas...

Tão logo umas se queimam, solitárias,

até parece que as outras, solidárias,

se vêm lançar e a partilhar suas penas.

Assim é a vida, enquanto amor perdura:

com cem ferrões exprime suas mensagens

e se enleia da medusa aos filamentos,

para morrer em ácida tortura,

alimentando vaidades e miragens,

em sua última efusão de sentimentos!...

PADRÕES I (2009)

Amor é um sentimento que os poetas

inventaram e fingiram que existisse,

tal como o romantismo revestisse

as ânsias do querer com ideais de estetas.

Mas as mulheres raramente são patetas

e querem garantias... Essa tolice

pertence mais ao homem, que mentisse

sua atração sexual em galas mais completas.

Se fosse assim, há muito o casamento

não mais existiria e nem sequer

essa sangria da pensão alimentícia...

Porque amor só habita o pensamento

de quem se deixa levar pela estultícia

de quem pensa ser amado por mulher...

PADRÕES II (6 nov 2011)

E porque busca a mulher a segurança

e a garantia de ter o próprio ninho,

enquanto o homem prefere beber vinho

e amar sem compromisso, qual criança,

sempre haverá qualquer desesperança

nessa busca de amor qual azevinho,

na confusão perpétua do carinho,

no arremedo constante da esquivança.

Porque o homem, se é romântico, se atira

sem olhar as consequências, nem o preço,

em busca dessa jóia conquistar...

Enquanto a jovem, até quando suspira,

sabe dar ao material maior apreço

e cedo ou tarde, seu conforto irá buscar...

PADRÕES III

Não que afirme com isso que não amem,

porém buscam do amor o resultado.

Pouco lhes serve um caso inacabado,

sem que laços mais firmes lhe reclamem.

E por mais que românticas se chamem,

mantêm os pés na terra, em firme fado.

O seu instinto é ter filhos ao lado,

por mais que amar o amor assim proclamem.

E como reclamar de tal instinto?

Vem a mulher para a maternidade,

muito mais que para esposa ou profissão.

É somente o mais real que aqui eu pinto

e o que seria de toda a humanidade,

sem tais hormônios que a garantirão?

TOALHAS DE VENTO I (31 OUT 11)

Não entendo por que pessoas só apertam

a toalha contra a pele ao se enxugarem.

É uma forma de umidade ainda deixarem,

que em alguns pontos decerto nem acertam...

No verão, é até melhor se conservarem

essas gotas de umidade que as confortam,

porém no inverno, frialdade é que comportam,

deveriam com mais força se enxugarem...

Lembro meu tio, que em dias de verão,

após o banho, nunca se enxugava...

Deixava a água o corpo a lhe molhar,

pois dizia que evitava a brotação

do suor, tão logo o banho terminava,

que novamente o havia de sujar...

TOALHAS DE VENTO II

Esse fenômeno conheço muito bem...

Da genética partilho de meu tio.

Prefiro muito mais os dias de frio,

que nos dias de calor suo também,

após o banho, se o ar quente vem

e me persegue enquanto não resfrio...

Prefiro o vento, em ondas de arrepio,

mesmo com o risco de gripe que se tem...

Um banho quente conforta muito mais

quando se enche o banheiro de vapor

e nem assim nos vem transpiração...

Até queria os efeitos naturais

de dois invernos, sem sentir calor,

salvo o que brota de meu coração...

TOALHAS DE VENTO III

Se bem que tenha seu mérito o suor:

eu vejo estrelas brotando de minha pele,

em mil gotículas, proteção que impele

o mecanismo que afasta o mau calor!...

Também transformo em suores meu amor,

em letra negra que teu sono vele,

que teu destino totalmente sele

ao meu fluir em cantos de esplendor!

Mas ai de mim! Eu vejo que secaste,

toalha felpuda de pura indiferença,

todo o suor de versos que te dei...

Minha umidade ao vento desprezaste

e a pouco e pouco ressequei minha crença

em qualquer gota do amor que em ti busquei.

ÁGUAS DE VIDRO I (4 nov 11)

O estranho rio possui cabelos brancos

que descem os socalcos, desgrenhados.

pentes do vento foram recusados

e se despencam sobre pétreos bancos.

A ferradura se abre contra os flancos

dos rochedos lentamente carcomidos.

Mais pela chuva foram perseguidos

os restos erodidos dos barrancos.

Igual que fosse mística lagoa

a poça verde à água estende os braços,

vestidos de marrom e de castanho,

enquanto o rio ali despenca à toa

e lhe rejeita todos os abraços,

grande demais sua ânsia por mais ganho.

ÁGUAS DE VIDRO II

Que o rio escorre em direção secreta,

demandando o Caribe e até o Oceano.

Não como o Nilo que rasga o chão tebano:

qual afluente no Madalena excreta.

Engrossa o rio com metálica dieta,

comendo cobre e ferro em solo plano

e sobre as quedas salta, soberano,

buscando a gravidade mais dileta...

E nessa marcha, revela-se em mil cores,

reflexos do azul, do céu, do Sol,

desse sal que extraiu por toda a terra.

Rio opulento, sem quaisquer amores,

buscando minerais de puro escol,

com que possa forjar armas de guerra.

ÁGUAS DE VIDRO III

E a pouco e pouco, a fúria que adquire,

que mais e mais alimenta-lhe a soberba,

nos mil reflexos que ao redor reverba,

além das rochas seu canal insere.

De vidro as águas com que o solo fira,

obsidiana e alabastro ao curso herda,

calcita e arenito corta em cerda,

louco destino no horizonte mira...

Com suas facas cortantes de cristal,

nessa escabrosa paciência de alvião,

demarca o seu caminho sem cessar.

E inversamente, procura o próprio mal:

rompe em triunfo a derradeira proteção

e noutro rio vai-se inteiro desmanchar!

MEDUSAS I (2009)

Ao cravar dos ferrões, morrem abelhas,

que se dispõem a morrer pela colmeia

e vêm em bando, morte de epopeia,

qual se narrava nas histórias velhas...

Ao enviar do amor, também espelhas

comportamento idêntico. Tua ideia

se lança qual antenas; para a deia

te dás em sacrifício. Quais ovelhas,

cujo sangue se derrama em seu altar,

derramas tuas paixões, em singular

devotamento que não conduz a nada.

E todavia, essa saga milenar

vem sendo tantas vezes recontada,

quais as abelhas que morrem sem pensar.

MEDUSAS II (5 nov 11)

Ao cravar das paixões, morrem os sonhos,

jogados a seu alvo, em alcateia,

lançados sem cuidado e sem higeia,

sem precaução, sinceros e risonhos...

Eles se atiram, inocentes e bisonhos,

para mostrar-se, em termos de odisseia,

sem a menor vergonha de plateia

e então perecem, murchos e tristonhos.

Não apenas por serem rejeitados,

mas por tratados com pura indiferença

ou recebidos em plena zombaria,

que cada sonho por riso capturado

tem as asas cortadas de sua crença:

aves mantidas no cercado da ironia...

MEDUSAS III

Ao luzir dos castiçais, morrem falenas,

queimadas asas em tantas luminárias,

precipitadas em revoadas multifárias,

a renovar nos pavios chamas pequenas...

E ainda repetem diariamente as cenas...

Tão logo umas se queimam, solitárias,

até parece que as outras, solidárias,

se vêm lançar e a partilhar suas penas.

Assim é a vida, enquanto amor perdura:

com cem ferrões exprime suas mensagens

e se enleia da medusa aos filamentos,

para morrer em ácida tortura,

alimentando vaidades e miragens,

em sua última efusão de sentimentos!...

PADRÕES I (2009)

Amor é um sentimento que os poetas

inventaram e fingiram que existisse,

tal como o romantismo revestisse

as ânsias do querer com ideais de estetas.

Mas as mulheres raramente são patetas

e querem garantias... Essa tolice

pertence mais ao homem, que mentisse

sua atração sexual em galas mais completas.

Se fosse assim, há muito o casamento

não mais existiria e nem sequer

essa sangria da pensão alimentícia...

Porque amor só habita o pensamento

de quem se deixa levar pela estultícia

de quem pensa ser amado por mulher...

PADRÕES II (6 nov 2011)

E porque busca a mulher a segurança

e a garantia de ter o próprio ninho,

enquanto o homem prefere beber vinho

e amar sem compromisso, qual criança,

sempre haverá qualquer desesperança

nessa busca de amor qual azevinho,

na confusão perpétua do carinho,

no arremedo constante da esquivança.

Porque o homem, se é romântico, se atira

sem olhar as consequências, nem o preço,

em busca dessa jóia conquistar...

Enquanto a jovem, até quando suspira,

sabe dar ao material maior apreço

e cedo ou tarde, seu conforto irá buscar...

PADRÕES III

Não que afirme com isso que não amem,

porém buscam do amor o resultado.

Pouco lhes serve um caso inacabado,

sem que laços mais firmes lhe reclamem.

E por mais que românticas se chamem,

mantêm os pés na terra, em firme fado.

O seu instinto é ter filhos ao lado,

por mais que amar o amor assim proclamem.

E como reclamar de tal instinto?

Vem a mulher para a maternidade,

muito mais que para esposa ou profissão.

É somente o mais real que aqui eu pinto

e o que seria de toda a humanidade,

sem tais hormônios que a garantirão?

William Lagos
Enviado por William Lagos em 16/12/2011
Código do texto: T3391185
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