TRAIÇÃO DA MEMÓRIA

A chuva cai tão forte,
Trovoada e ventania lá fora,
As árvores quase vão ao chão,
E aqui fico a olhar pela vidraça.

O vento faz jorrar água no vidro,
Da janela que me protege do vento,
Que escorre vadia, imagem de poesia,
Bolinando todas as minhas lembranças.

Nessa mesma cadeira onde me esparramo,
Escutando a chuva e o vento que assovia,
Outrora era você que sentava e me sorria,
E me convidava do seu jeito tão lânguido.

E aqui mesmo a gente se amava,
Sem importar se chovia, se ventava,
Sem ouvir nem saber de nada lá fora,
Só existia o som dos seus gemidos.

A trovoada forte me faz recobrar o presente,
A chuva que persiste me traz mais solidão,
O vento solavanca bem como você fazia,
Remexendo o corpo em espasmos e frenesi.

As lembranças quase me fazem delirar,
Nessa vontade febril de que você chegue,
Abrindo a porta e entrando toda molhada,
Com o corpo todo exposto na transparência,
Do vestido que a cobre e a faz tão mais excitante.

Volto a olhar a janela açoitada pela chuva,
A noite vai chegando trazida pelos ventos,
Clarão dos relâmpagos invade a sala,
Enquanto minhas memórias me traem.

Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 11/12/2011
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