NO VENTRE DO SONHO

Não me lembro da canção

que me habita

cenas de sonhos

perdidas no abrir de olhos

das manhãs.

Não me lembro das paisagens

que me habitam

árvores para as asas

igrejas para as preces

rios para o pouso dos pés.

Não me lembro da espera

que me habita

que era espera de mim

a navegar nas águas do teu sangue

- viagem que se bastava em si.

Não me lembro das renúncias

que me habitam

como se tudo ocorrendo

desde sempre só depois do fim

- o que não é, sem deixar de ser.

Só não ouso mais dizer de ti.

Só me lembro do que nunca fomos.

Só me lembro do ventre do sonho

de onde nunca me foi possível emergir.

No fim de 09 de dezembro; publicação no início da madrugada de 10 de dezembro de 2011.