FELINA
Em cada cio, eu transponho a tua porta;
Invisível para os olhos em perdição.
Arrasto-me ferida, o delírio me transporta,
fugindo ao tato real sem ter razão.
Farejo o teu cheiro ensandecida
E te encontro no vazio da solidão...
Com grande salto te entregas à minha gula
A voz em eco que ressoa estrangula
Em mim o grito exarcebado de pretensa possessão;
Rugindo em ânsias me entrego insaciável
Ao teu desejo feroz que me alucina...
Sinto tua língua penetrante que me anima
Deixando em mim um gosto acre, comparável
Ao sangue que jorra de uma presa longa e fina.
Preso em minhas garras de fêmea fui faminta
E saciei em ti meu apetite;
Ressoando no deserto deixo extinta
A certeza de uma boca que não minta,
Para cuspir todo fel que em mim existe
E inebriar-me do doce cálido que ainda sinta.