Poema 0939 - Desespero

Revesti meu corpo com pedaços de esperança,

joguei fora sonhos antigos de amor,

rasguei retratos, quebrei a alma ao meio,

matei minha fome em um copo ou dois,

até que ela desapareceu dos meus olhos.

As palavras com as quais me vesti no entusiasmo

perderam-se na boca da minha alma,

não quero ser humano, nem ao menos amante,

deixo aqui minha vontade de sorrir

e pedaços de desejos que se despedaçaram.

Estou sufocando devagar cada lembrança,

fazendo coisas sem sentido,

não escrevo mais um bilhete sequer,

alguns morrem de amor, outros como eu não,

vivem para um dia esquecer.

Volto a caminhar ruas de um porto vazio,

aonde barcos não vão a direção alguma,

as estrelas não mais indicam caminhos,

as águas viraram as ondas ao contrário

e não quebram na praia, como hoje não existo.

Canto uma música pelas manhãs,

foi o que restou de som pela casa vazia,

um cheiro forte de café e cigarro,

um sol que nem arde nas paredes de fora,

perdi a coragem de abrir a porta e sair.

Perdoe-me por esta confissão de culpa,

não sou digno de nenhuma outra paixão,

meus sentidos estão fora de controle,

não consigo ver o brilho em nada,

transformei minha sensibilidade em pedra.

Quero ainda poder voltar a creditar no amor,

ver os sonhos, ainda que não os realize,

enxergar carinho em olhos de outras mulheres,

não caminhar apenas com minha sombra fria,

talvez possa e acreditem em mim, talvez me ame.

05/01/2007

Caio Lucas
Enviado por Caio Lucas em 05/01/2007
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