IRRESISTÍVEL & CORDÕES DE LUZ

IRRESISTÍVEL I - 12 SET 11

Irresistível como surge a tempestade

e tudo arrasa pelo seu caminho,

deixando atrás de si rastro mesquinho,

sem que nada a controle de verdade.

Que bom seria se a feroz inanidade

pudesse ser domada com carinho

e toda a fúria do vento, de mansinho

se transformasse em eletricidade!...

Ou que todos os raios e trovões,

tanta energia desgastada inutilmente,

pudessem ser usados sem maldade

e que todo esse poder dos furacões

que só destroem e matam tanta gente,

fosse empregado para a humanidade!

IRRESISTÍVEL II

Irresistível como a força da maré

que sobe lentamente e não se prende,

que aos pedidos humanos não atende,

mas que entra pela praia tal qual é,

até o ponto que demarca a antiga sé

e que recua depois, e não se vende,

que a nenhum almirante já se rende,

nem a ladainhas febris de qualquer fé.

Que bom será quando se dominar

essa energia totalmente renovável,

dessa dama noturna e dadivosa,

que a Terra banha lá de seu altar,

com seu sorriso pálido e inefável,

em sua mansa frigidez de prata airosa.

IRRESISTÍVEL III

Irresistível como a lava dos vulcões,

a abrir-se lentamente seu caminho,

sem respeitar nem dique nem moinho,

mas segue em frente após erupções,

igual que as piroplásticas monções,

depositadas em cinza como arminho,

esses anéis que o globo, sem carinho,

desposam em brutais infecções...

Que bom seria poder aproveitar,

para sustento das multidões famintas,

toda essa força que recobre a Terra!

Igual que a fértil encosta a cultivar,

após as explosões há muito extintas

já não mais contra a vida façam guerra.

IRRESISTÍVEL IV

Irresistível como a própria morte,

quer chegue de mansinho ou violenta,

que nos leva a dormir ou atormenta

por um período de lastimável sorte...

Mas que às dores e males traz um corte

e as interrompe, subitânea e benta,

indiferente ao lacrimar que tenta

lançar o bálsamo que a tal fim aborte.

E como o esforço humano obteria

um triunfo sobre a foice tão tristonha,

a conservar entre nós entes queridos!

Ou de que forma se prosseguiria

vida de gênios e artistas que se sonha

que outros ideais tivessem atingidos.

IRRESISTÍVEL V

Irresistível como a própria vida,

que pela nossa preguiça não espera,

que por indecisão jamais se altera

e segue em frente da forma pretendida.

Irresistível, tal qual leve de vencida

os medos e ambições de toda esfera,

que novos seres ao redor nos gera

e que até hoje demonstra-se incontida.

Irresistível, como leva a criança

pelos anos que se escoam sem parar,

e que na adolescência então se ilude,

que tenha sob seu controle a esperança

e que em maturidade ao se lançar

constrói somente a própria senectude!

IRRESISTÍVEL VI

Irresistível como a própria aurora,

como é pequena essa vontade humana!

Joguete inerme da Natureza insana,

Marionete nos cordões de cada hora...

Irresistível a imaginação do agora,

descontrolada da ânsia a mais tirana,

irresistível como a saga soberana

das cadências douradas de um outrora.

Quando domes o furor da tempestade,

quando controles a força da maré,

ou enfrentes os vulcões a peito nu,

quer a morte se conquiste à saciedade,

quer se domine a vida em plena fé,

mais irresistível que tudo serás tu!...

CORDÕES DE LUZ I – JAN 2009

Eu vou morrer num dia de calor,

em que se esgota o derradeiro pingo

dessa energia com a qual me vingo

do mundo sem prazer e sem amor.

Eu vou morrer crestado pelo ardor,

tão esgotado que nem mais eu xingo.

O passo lento, nem sequer eu gingo:

tenho paixão pelo ventilador...

Então me invade imensa gratidão

pelo mundo em que vivo e que proclamo

nesses meus versos de castiça métrica.

O que eu faria na assoberbação

de um calor de ainda maior reclamo,

se não houvesse a energia elétrica?

CORDÕES DE LUZ II - 13 SET 11

Vejo muitos hoje em dia se queixar

da vida urbana e do momento atual.

Querem retorno à vida natural,

quando vida mais saudável iriam gozar.

Sem perceberem como pode nos matar,

bem facilmente, esse tal mundo real.

Viver na selva não é um carnaval:

são vidas duras, de curto perdurar.

Foi tão somente a cultura da cidade

que permitiu aumentar a duração

da vida humana e que nos deu lazer.

Para o progresso de toda a humanidade

pela melhora da alimentação,

sem que de fome se viesse a perecer.

CORDÕES DE LUZ III

Antigamente, nas terras europeias,

a cada vez que o inverno se instalava,

morriam magros, enquanto só restava

um gordo emagrecido em centopeias!...

Só os mais gordos resistiam às epopeias

dessa fome que por meses perdurava,

por entre o frio que a terra enregelava:

só ocorriam nos verões as odisseias...

Enquanto hoje, a fome é africana,

precisamente onde não há cidades,

nos desertos e nas longas pradarias.

E mesmo ali se expande a raça humana,

com alimentos que trazem caridades

pelas comunicações de nossos dias.

CORDÕES DE LUZ IV

Antigamente, quando algo escasseava,

não se podia mesmo conseguir.

Não havia estradas para o conduzir

e a epidemia logo se espalhava

entre a gente desnutrida que ficava.

Foi a força do carvão a permitir

e o primeiro crescimento a produzir,

que aos povos europeus beneficiava.

Mas hoje existem esses cordões de luz

que percorrem as matas e os desertos,

linhas constantes de comunicações,

medicamentos da Vermelha Cruz,

e previsões contra tempos mais incertos,

quando se tomam possíveis precauções.

CORDÕES DE LUZ V

Essa gente não percebe que a energia

que nos permite viver mais longos dias

não se encontra nas matas arredias

e nem tampouco no campo antes havia.

Das possíveis não é esta a melhor via,

mas dentre todas que na história lias

é a que deu mais conforto às confrarias

da humana raça na estrada que seguia,

Calcetada de ossos, da infantil

mortalidade, das mil epidemias,

da gente velha já aos quarenta anos.

Porque mesmo quem vive sem ceitil,

vive hoje melhor que as senhorias

de tantos séculos antigos soberanos.

CORDÕES DE LUZ VI

Assim, eu agradeço ao tempo atual,

que me permite comer sem ter plantado

que me permite vestir sem ter cardado,

que me permite dormir sem temer mal.

Que às minhas doenças traz cura real,

na qual escuto as melodias do passado

ou vejo imagens do que foi filmado

muito antes de minha vida natural.

Que me permite viajar sem ter receio,

que me permite ler o que escreveram

os antigos sobre as guerras e o amor.

E, sobretudo, dar graças de permeio

por hidrelétricas que antes já ergueram

e agora acionam o meu ventilador!...

William Lagos
Enviado por William Lagos em 05/12/2011
Código do texto: T3372420
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