Extinção Ultra Blue

Vou removendo os vestígios da noite,

que ficaram ocultos pelos cantos.

Primeiro as roupas arrancadas

por dois selvagens furiosos.

Depois os cabelos partidos,

como tecidos desfeitos pelo atrito.

Recolho as unhas quebradas,

que partiram a carne convulsa.

Sua pele retalhada pela navalha,

que guardava seu coração sombrio.

Recolho os músculos inflados,

que trituravam meus ossos antigos,

recolho seus intestinos,

onde guardava meu amor esquerdo.

Sobre rastros, homens e ligações covalentes,

sobre a noite, insetos e alucinações,

digo apenas o que é a espera.

Com seus restos de amor estilhaçado,

por todos o cantos do meu quarto,

faço a musica dopada e suja,

que adormece demônios á espreita,

e faz o tempo perdoar meus crimes.

Em breve novamente esse azul noturno,

será esquecimento e uma voz distante,

vinda de um ponto, não sei de onde,

que ao recordar me induz ao choro,

mas cujo rosto a poeira irá ocultar.

Sou como o cão de dentes crispados,

contemplando o futuro inimitável,

que cospe um dia no presente,

pra que a dor jamais se acabe.

Vou removendo os vestígios da noite,

que se acumulam em meu espírito perplexo.

Deixando o sol do dia seguinte carbonizar

seus olhos tristes feitos da náusea.

Até que sobre apenas eu, parado,

vendo o caminho que vai embora,

e o assassinato artificial em meu quarto.