cogitação
fui corriqueiro na maneira de te olhar
mas deu pra ver o que serias para mim
pois percebi nesse teu jeito de sorrir,
de andar, falar e até no modo de vestir
que o meu tecido preferido é o cetim
e a tua pele estava ali pra me mostrar
tua boca beijos de amor que não pedi
estava ali me prometendo conceder
ou era o quadro que eu pintava como um louco?
ou era um laivo de desejo, só um pouco
que envolveria a minha morte num prazer
igual àquele que me deu quando te vi?
não quero a fada protetora dos guris
não quero a musa inspiradora do poeta
e nem a esposa comedida e caricata
mas a mulher que quando vem pra mim, me mata
com o seu amor irreverente e, inquieta,
me mostra o quanto ainda posso ser feliz
não me endoidece o prato de feijão com arroz
casa arrumada a gente tem como manter
o que não posso é me privar da tua mão
pra apertar e assim fugir da solidão
ou imaginar que um dia eu possa não te ter
se acontecer algo de mau entre nós dois
Rio, 29/12/2006