Disseram-me um dia…
Que o tempo era mentiroso
Que podia brincar à vontade à eternidade
Disseram-me um dia isto nos meus primeiros anos
Disseram-me que era mentira o envelhecer
Que só envelheciam os sábios
Ou os amantes amargurados
Que todos morrem
Mas que os outros morrem como jovens
Devido à sua forma de ser…
E também me disseram
Que o mundo era composto de anjos
Que todos estávamos destinados a voar
Que o céu era o limite
Que o alcançaríamos por meramente sonhar…
Que o amor por vezes era para sempre
E que nenhuma força do universo
O pode acabar
Porque sem amor
Somos anjos sem asas
E que por isso
De facto nunca poderemos voar…
E reparei então demasiado tarde
Que nem sou sábio
Nem sou um amante amargurado
E no entanto dei comigo a envelhecer
Sem que nada possa
Para evitar tal acontecer…
Notando entretanto que os anjos são raros
Que somos afinal todos humanos
Que só voamos com asas artificiais
E que mais do que prazer
Demasiada gente quer é mesmo outros magoar
E eu sonho de facto
Mas o céu
Só nos filmes a três dimensões posso efectivamente tocar…
Mas no meio desta realidade
Do fim supremo da ilusão
Sei que o amor pode ser para sempre
Sei porque o sinto
E não há dor
Não há desilusão
Que mo possa roubar
Sei
Porque mesmo quando triste
Amo
E quando mesmo triste
Sonho
Mesmo quando triste
Eu me sinto de uma forma tão bela que tal custa a explicar
Eu me sinto nas nuvens
Eu me sinto
Desde bem pequenino a voar…