A Mulher

Se é clara a luz desta vermelha margem

é porque dela se ergue uma figura nua

e o silêncio é recente e todavia antigo

enquanto se penteia na sombra da folhagem.

Que longe é ver tão perto o centro da frescura

e as linhas calmas e as brisas sossegadas!

O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço

que no umbigo principia e fulge em transparência.

Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo

que em espiral circula ao ritmo da origem.

Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola

do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa.

O seu sorriso é a distância fluida, a subtileza do ar.

Quase dorme no suave clamor e se dissipa

e nasce do esquecimento como um sopro indivisível.

António Ramos Rosa

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 27/11/2011
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