A apologia da verdade…
Vamos brincar aos espelhos
De feira
Às interioridades
Ao politicamente correcto
Onde dizemos o que está no quadrado da norma
E somos assim muito felizes
Fieis ao que nos ensinaram a ser
Neste admirável mundo novo
Mas infiéis
À apologia da verdade…
Vamos fingir que está tudo bem
No tal quadrado onde prenderam a realidade
Primeiro num ecrã
E depois no mundo de todos os dias
A sociedade está a desabar
Mas somos imensamente felizes
Embora saibamos o que se passa
Quando ficamos a sós
E ai sim somos devotos da
Apologia da verdade…
Vou dizer que te amo
E com isso uma data de lugares comuns
De frases feitas
Não me atrevendo a apontar-te os defeitos
Nem tu os meus
Faremos tal mais tarde
Quando for demasiado tarde para os emendar
Faremos tal mais tarde
Quando os laços entre nós
Forem de tal ordem fortes
Que quando se quebrarem
Em vez de nos ferirem
Nos podem eventualmente matar
Até lá
Brinquemos pois à felicidade cínica
E hipócrita
Onde o que somos
O seu revelar total
É o pior defeito
Que deverá ser rasurado do presente
E de preferência de toda a eternidade
Que não nos interessa pois vivemos no e para o presente
E por isso somos os detractores globais da
Apologia da verdade…