SALOMÉ
Não tenho tua carne
Assa-me a tua assaz incompletude
És rude quando não tenho este maldito tempo
Que se julga meu dono e não me deixa esta
Parte de mim a te doar o meu grude
Faço o que posso que culpa me tem
Se minha parte já estava noutra parte quando
Conheceu-te
O fogo se acendeu novamente
Depois de aceso preso estou
Na tua combustão
Almas se descontrolam
E outras partes se acham
A diferença está em
Quem fica com esta alma ou aquela
São aquarelas vivas do mesmo porvir
Neste tempo corpóreo
Existem tanto seres e quantas almas
Perdidas e quantas não achadas
O amor é ter
O prazer é sentir
A paixão é existir
Entremeado mundo feito de cascas
Lascas de uma fonte inquietante
Jorrando murmúrios
Augúrios que se anunciam
Prenuncio de outras cavalgadas
Estradas sem rumo
Peles eriçadas
Paixões enjauladas
Caçadores e caçadas
Quer saber
É melhor anoitecer
Com as madrugadas cravejadas de brilho
Que embalsamam as estrelas
Apaixonadas pela escuridão!
Podemos conjecturar o que é a vida
Mais jamais saberemos o que ela é
Muito menos o que ela não é...
Que eu seja a cabeça de João Batista
Não pertenço a ninguém
Muito menos a esta filha de Herodíades
Princesa da Judéia
Eu não te dou minha cabeça de Siloé
Oh! pervertida Salomé!
(*Todos os textos de minha autoria são inspirados no amor universal e não reflete necessariamente uma experiência de cunho pessoal)