SALOMÉ

Não tenho tua carne

Assa-me a tua assaz incompletude

És rude quando não tenho este maldito tempo

Que se julga meu dono e não me deixa esta

Parte de mim a te doar o meu grude

Faço o que posso que culpa me tem

Se minha parte já estava noutra parte quando

Conheceu-te

O fogo se acendeu novamente

Depois de aceso preso estou

Na tua combustão

Almas se descontrolam

E outras partes se acham

A diferença está em

Quem fica com esta alma ou aquela

São aquarelas vivas do mesmo porvir

Neste tempo corpóreo

Existem tanto seres e quantas almas

Perdidas e quantas não achadas

O amor é ter

O prazer é sentir

A paixão é existir

Entremeado mundo feito de cascas

Lascas de uma fonte inquietante

Jorrando murmúrios

Augúrios que se anunciam

Prenuncio de outras cavalgadas

Estradas sem rumo

Peles eriçadas

Paixões enjauladas

Caçadores e caçadas

Quer saber

É melhor anoitecer

Com as madrugadas cravejadas de brilho

Que embalsamam as estrelas

Apaixonadas pela escuridão!

Podemos conjecturar o que é a vida

Mais jamais saberemos o que ela é

Muito menos o que ela não é...

Que eu seja a cabeça de João Batista

Não pertenço a ninguém

Muito menos a esta filha de Herodíades

Princesa da Judéia

Eu não te dou minha cabeça de Siloé

Oh! pervertida Salomé!

(*Todos os textos de minha autoria são inspirados no amor universal e não reflete necessariamente uma experiência de cunho pessoal)

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 25/11/2011
Reeditado em 25/11/2011
Código do texto: T3355183