ESPELHOS PARTIDOS
Um dia alguém viu em mim
a beleza que eu não via.
Ai, flores da minha alma
partidas na correnteza.
Um dia alguém viu em ti
a beleza que não vias.
Ai, flores da tua alma
partidas na correnteza.
Eu e tu jamais soubemos
que fomos belos assim.
Espelhos partidos se vão
nas águas que fomos se vão.
Foi para isso que viemos?
Para desfigurar a beleza
que nenhum de nós sabia
a beleza que reinou
em vão?
Foi para isso, Narciso?
Foi para isso, Orfeu?
Para ver a morte da beleza
que veio tarde demais?
Para ver este olhar partido?
Para ver esta alma partida?
Foi para isso que viemos, Julieta?
Foi para isso que viemos, Romeu?
Para ver nossa face sem face?
Para ver o rosto desta Dor?
Foi para Isso? Sem tempo de remissão?
Na manhã de 24 de novembro de 2011.