INÓSPITO
Assim que abri os olhos
Percebi que havia morrido para alguém.
Como se a morte fosse algo que eu desconhecesse...
Neste mundo todos morrem,
Seja de dor ou solidão.
Injusto os que morrem
Dos males do coração.
O amor mata por dentro,
Corrói mais que a idade,
Faz os cristais dos olhos se perderem.
Faz a chuva escorrer pela parede,
Como a saudade e o medo de partir.
Não é o partir físico que me assusta,
Deste já experimentei,
É a ausência de quem mais amei.
Nunca havia percebido uma lágrima
Nestes meus olhos cansados,
Sempre chorei de alegria,
Isso agora, é passado.
Saiu de mim uma alma perdida.
Se havia vida até então
Era porque palpitava no peito
Algo que causava emoção.
Agora, sou chão, o mais fundo chão,
Aquele em que todos pisam,
Sem a menor compaixão.
Poderia ao menos ter escolhido melhor
A cor do meu próprio caixão.
A doença domina o corpo,
Este termina quando definha,
Os vermes cuidam do resto.
Eu apenas passo,
Sem corpo e sem alma,
Na imensidão do espaço.
Mas, se neste universo houver,
Realmente um Deus qualquer,
Que esse venha me receber,
Ao lado daquela mulher...