INÓSPITO

Assim que abri os olhos

Percebi que havia morrido para alguém.

Como se a morte fosse algo que eu desconhecesse...

Neste mundo todos morrem,

Seja de dor ou solidão.

Injusto os que morrem

Dos males do coração.

O amor mata por dentro,

Corrói mais que a idade,

Faz os cristais dos olhos se perderem.

Faz a chuva escorrer pela parede,

Como a saudade e o medo de partir.

Não é o partir físico que me assusta,

Deste já experimentei,

É a ausência de quem mais amei.

Nunca havia percebido uma lágrima

Nestes meus olhos cansados,

Sempre chorei de alegria,

Isso agora, é passado.

Saiu de mim uma alma perdida.

Se havia vida até então

Era porque palpitava no peito

Algo que causava emoção.

Agora, sou chão, o mais fundo chão,

Aquele em que todos pisam,

Sem a menor compaixão.

Poderia ao menos ter escolhido melhor

A cor do meu próprio caixão.

A doença domina o corpo,

Este termina quando definha,

Os vermes cuidam do resto.

Eu apenas passo,

Sem corpo e sem alma,

Na imensidão do espaço.

Mas, se neste universo houver,

Realmente um Deus qualquer,

Que esse venha me receber,

Ao lado daquela mulher...

DESPEDIDADAVIDA
Enviado por DESPEDIDADAVIDA em 22/11/2011
Código do texto: T3350715
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