Tatuada

Tu tatuaste em minha carne...teu lúgubre cheiro,teu vorás sentimento...teu violento jeito de dizer –me que tudo em mim era teu.

Dirigiu meus instintos,incultiu -me os teus vícios, direcionou os meus passos, proibiu-me até de cultuar a minha vaidade...matou minhas amizades...retirou-me do seio de minha família...e o único porque de tudo era que eu nascera apenas pra ser tua!

Rememoro triste...e segredo a mim mesma em meio a esta cela de cetim... como foi que o príncipe transformou-se no carcereiro...

Usas-te de tua cercadura dourada construída “apenas” de palavras “enamoradas” de abraços de ensejo...de luxuriantes...e dengosos beijos e num mudo segredar de almas eu achava que também se rendias ao aconchego.. e pouco a pouco o desassossego de um coração enciumado...e há muitas décadas em si mesmado coloria-se com meu fino trato.

No teu abraço eu me sentia única...verdadeiramente parte daquele peito de almofada..onde minha alma apaixonada era a borboleta pousada a flor...febrilmente aconchegada naquele todo que idealizava ser meu.

Naqueles dias de céu estrelado e lua cheia nada no mundo era maior do que o teu abraço...que o olhar de cumplicidade....

Eis os tempos idos...antes da perda do alo...

No entanto, a inóspita posse transformou o moço bonito num déspota...e ao meu pobre coração num subversivo...tratado a voz altiva de comando...gestos bruscos....e chave a porta...

Assim ,tatuaste sem alarde na minha pele alva o código de tua conquista

Imprimiste a duras penas com letras garrafais em minha alma o peso da tua posse..o deleite da ta lascívia..

Aos poucos foste amealhando cada canto da minha intimidade...e fora invadindo vorazmente neste teu afã de comando e busca de cega devoção impiedosa...e aos poucos o amor que eu idealizara...e trocara a custa de minha liberdade...transformou-se neste arremedo castrador...que de mim tudo levou...desde o coração...a confiança....a identidade...mas felizmente não a coragem.

Hoje convivo com meu “queloide”...após ter sobrevivido a toda esta voraz ganância...e me omito diante do pior dos sarcasmos...pois depois de tão pujante...transformei-me na descartada alma adjetivada como apenas o indócil corcel..que não se dobrou aos arreios....de seu pseudo senhor.....por isso como castigo devia ganhar o dissabor de ser devolvido.

Bem se isso é o que os parvos chamam de amor?

Prefiro a solidão...afinal na companhia desta dama resgato minha autonomia e limpo sem demora a tatuagem desta covardia do fundo do meu coração!

Olhos de Falcão
Enviado por Olhos de Falcão em 19/11/2011
Reeditado em 28/10/2018
Código do texto: T3344353
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