Profanas

Profana mim’alma, mais uma vez

Siga pelo meu corpo num sentido único

Esparramando pelas vias de minha tez

Este seu sentido que se faz infunico...

~

Profana-me dizendo a verdade

Calando-se apenas neste sorver,

A tua boca que me suga numa total intensidade

Como um gelo no meu calor a derreter...

~

Profana, destrua, queime tudo o que puder

E se sobrarem cinzas, deixe-as ir com o vento

Pois ele me formará, novamente mulher

Marcada por ti, em um único advento...

~

Então me faça mais uma vez profana

Rasga a minha seda, borre meu batom

No teu corpo, num todo estarei ufana

Pelo jactante momento, num suave semitom...

~

Diante disso faça de meu reverso o teu verso

Cante-me, inebria-me, faça-me teu poema

Composto pelo teu instinto mais perverso

E só depois nos teus braços, me condena...

~

E assim, perpetua-me nesta tua sina desencadeada

Profana-me deste modo, sem palavras, e sem razões

Pois sou como a flor, sublime, leve, delicada

Uma rosa desabrochada entre os teus botões...

~

Que é regada pelo mesmo suor que nos banha

Este que verte da pele, tão salgado humor

Que deveras, num todo me assanha

Prazeres embriagados, desse licor de amor...

~

Profana-me, dizendo-me que sou a nução de seu pecado

E me condene, se achares que não se envolveu

Castra-me, se eu não fora eu seu desejo mais desejado

E me cale, se no meu corpo a tua estória não escreveu...

Marco Ramos
Enviado por Marco Ramos em 12/07/2005
Código do texto: T33401