DESENCANTO
Para que amar...
Se desconheço a verdadeira face do amor;
Para que sonhar...
Se o desengano me assola constantemente,
E a verdadeira realidade me prende a um profundo calabouço;
Talvez meu corpo tenha sido possuído por um demônio chamado amor,
E agora, e somente agora, talvez tenha sido exorcizado do meu ser;
E em seu lugar foi acoplado o pessimismo desvairado,
Que por tantas vezes tem acompanhado
A transcendência de minha alma;
Que se põe em prantos,
E caminha ao longo de um abismo,
Iminente a um tombo, que não mais se erguerá.
Ou essa enfermidade, a quem chamamos de amor,
Tenha sido meramente incubido ou defenestrado do meu ser;
Buscar definições para o amor, se é que ele existe,
É como se perder no deserto e não ter uma gota d'agua para saciar sua sede;
É sentir o seu corpo sendo corroído brutalmente pelos inócuos anticorpos...
Talvez o dicionário, não tenha verbetes suficientes para decifrá-lo.
[...]
Talvez seja ele, um complexo paradoxo em meio a um falhamento do desejo humano;
Ou até mesmo a antítese barroca e conflituosa do ser ou não ser;
[...] Não será o amor de duas pessoas sem laços sanguíneos,
Um mero pretexto para a obtenção do sexo ou do orgasmo propiciado pelo mesmo?
Não será o mesmo uma busca inútil e ambiciosa do ser humano?
Ou até mesmo, uma imagem idealizada pelos meros mortais,
Em busca de uma salvação a qual já estamos predestinados a não ter?
Definho em meu próprio inferno, caminho em meu próprio fogo,
Talvez a chama do ódio queira me acometer;
Porém, não sei se resistirei...
Quero fugir, voltar a ser criança e libertar minhas imaginações...
E voltar a ser um anjo puro sem que o pecado venha me acometer;
Esquecer dessa realidade obscura, falsa e vergonhosa,
E que muitos tentam maquiar...
Sumir desse mundo, do qual estou farto, desenganado,
Tenho medo de virar político, ladrão ou ser cassado;
Nem que seja por instantes, segundos, minutos, e de preferência por toda a eternidade;
Minha mente é como um campo minado, a qualquer momento pode guerrear,
Com os meus desejos, minhas ambições, e até com os meus desejos mais profundos e insanos,
Os quais meu subconsciente persiste em ocultar;
Meu futuro já está traçado, mais parece uma estação de trem;
Tenho que passar pela morte,
Neste ponto é onde minha alma trêmula sente calafrios;
Talvez por medo de ir para o inferno ou até mesmo por não se acostumar a viver no céu;
Vou convivendo com essa minha complexidade;
Às vezes nem eu mesmo me entendo,
Mas tenho certeza de algo:
A morte é minha companheira, vizinha, amiga...
Somos confidentes, conversamos tanto, que talvez me polpe do destino que me espera...
Já me acostumei com ela, porém, não quero ser subjugado e condenado pela mesma;
Espero que não briguemos, que não discutamos,
Pois, tenho receio em magoá-la.
Minha mente é um conflito inerte, uniforme e indecifrável;
Talvez esta abiose seja fruto da ablastia do meu coração;
Meu destino incerto talvez me propicie uma passagem agradável,
Ao mormaço destrutivo e formidável dos ares dos campos do inferno;
Que seja um expresso e que chegue logo ao meu destino [...].
Que o meu corpo putrefe, decomponha-se, porém,
Que as bactericidas nele existente, deixe ao menos um lembrete dizendo:
Sua carne estava fria, seu corpo foi imprestável, Seu coração estava murcho,
Mesmo assim, tive que comê-lo e degradá-lo;
Faço apologia a ela, mestra dos abismos imorais e insanos,
Senhora das horas de angústias e do desespero, busque-me sem medo,
Pois, aqui te espero...
Que tal jogarmos pôcker?
Pode ser que eu não volte, porém, não me preocupo,
Não deixo nada que me prenda, ou a que sinta falta,
Não deixo frutos e nem sementes para que vigore em minha ausência,
Não deixo vestígios do que eu sou, do que vou ser, do que já fui,
Deixo apenas, poucos livros, que talvez não valham nada;
Mas que para mim, serviram-me como refúgio, a quem desabafei meus tristonhos
Medos, desejos e lamentações...
Encerro aqui meu martírio, o meu desabafo, menos a minha solidão;
Muitas vezes me afago em meu próprio sonho,
Sonho coisas utópicas e desperto para o pesadelo,
Sei que agora não demonstro a face do desespero, porém,
Agora me contento, com fragmentos de felicidades, míseros pedaços de felicidade...
Felicidade plena sei que não existe, aspiro apenas a alguns átomos dela,
Alguns sorrisos ao qual tenho sido privado;
Não tenho tempo de sorrir, apenas de sofrer, de chorar, e me consolar com a morte
Minha velha amiga...
Busco incessante a hospitalidade da vida,
Busco sem medo,
A razão da minha existência, quero entendê-la, compreendê-la,
Estou em dívida com ela, fui caloteiro, mas, vou compensá-la outrora,
Com minha renovada satisfação de viver,
Com meu novo espírito, talvez crítico,
Mas rico e abundante em matéria de sofrer...