Sou
Ah! Não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta. (Florbela Espanca. In livro das magoas)
Sou gelo.
Sou brisa do mar no amanhecer.
Toco-te. Sinto o teu calor.
Sou fera faminta.
Sou leão ao norte.
Sou colméia pra você saciar o mel.
Eu queria ser profeta.
Talvez eremita.
E morar no alto da montanha.
Uma casinha de sapé, bem aconchegante,
De fogão a lenha, ter cabra e vaca,
Ter porquinho e periquito.
E lá no alto da montanha,
Quem sabe meus dedos toquem a ponta da estrela,
Quem sabe não viajo na calda do poema.
Eu sou rio.
E deságuo no teu leito.
Toco-te. Há substancias no teu amor.