Crepuscular

Há no ambiente um murmúrio de queixume,

De desejos de amor, d'ais comprimidos...

Uma ternura esparsa de balidos,

Sente-se esmorecer como um perfume.

As madressilvas murcham nos silvados

E o aroma que exalam pelo espaço,

Tem delíquios de gozo e de cansaço,

Nervosos, femininos, delicados,

Sentem-se espasmos, agonias d'ave,

Inapreensíveis, mínimas, serenas...

_ Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,

O meu olhar no teu olhar suave.

As tuas mãos tão brancas d'anemia...

Os teus olhos tão meigos de tristeza...

_ É este enlanguescer da natureza,

Este vago sofrer do fim do dia.

Camilo Pessanha

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 13/11/2011
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