Movimento

Se tu és a égua de âmbar

eu sou o caminho de sangue

Se tu és o primeiro nevão

eu sou quem acende a fogueira da madrugada

Se tu és a torre da noite

eu sou o cravo ardendo em tua fronte

Se tu és a maré matutina

eu sou o grito do primeiro pássaro

Se tu és a cesta de laranjas

eu sou o punhal de sol

Se tu és o altar de pedra

eu sou a mão sacrílega

Se tu és a terra deitada

eu sou a cana verde

Se tu és o salto do vento

eu sou o fogo oculto

Se tu és a boca da água

eu sou a boca do musgo

Se tu és o bosque das nuvens

eu sou o machado que as corta

Se tu és a cidade profunda

eu sou a chuva da consagração

Se tu és a montanha amarela

eu sou os braços vermelhos do líquen

Se tu és o sol que se levanta

eu sou o caminho de sangue

Octavio Paz

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 13/11/2011
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